domingo, 18 de novembro de 2007

Avenida

Caminho, todos os dias, pelo
Mesmo canteiro da
Avenida Floriano Peixoto
Ao tempo que
Respiro o seu ar tóxico
E escuto o seu som ensurdecedor.

Os carros que nela correm,
As pessoas que nela transitam,
Transitam como se a vida estivesse preste
A acabar.
Saem atropelando
Tudo que lhes passam pela frente:
Borboletas, moscas,
Abelhas, mosquitos,
Pássaros, crianças sujas e famintas,
Idosos moribundos,
Adolescentes encantados com a cor dos seus sapatos novos,
Lixo que transborda por todos os lados que se olha...

Bem poderia eu
Seguir um outro caminho,
Bem mais agradável do que este.
Porém, continuo sempre a
Passar pela avenida que é a espinha dorsal
Da cidade e que carrega em si todas
As suas dores, contradições e alegrias.

Mas se me perguntarem
O porquê,
Direi apenas que é
Porque sei que, de repente,
Os ipês
(Que assim como eu, compõem o canteiro
Desta amarga avenida)
Estarão emanando seus
Odores amarelos,
Vermelhos e rosas,
Colorindo o rosto do senhor
Que pede esmola,
Fazendo-me crer que atingi
Uma outra realidade sem
O auxílio de
Entorpecente algum.

(Jorge Elo)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Querer te querer,
ter você e não ter
ver você e não saber
sonhar e ao mesmo
sonhar
esperar num tempo de loucos
ser ao menos e tanto quanto
ao mesmo tempo
saber que é para sempre
e sempre saber que a primeira,
e ser a primeira mesmo
em sonhos loucos
ter você e ter outra vez
querer você e tentar
tentar e nunca conseguir,
conseguir e sempre pedir
com olhos de fome
fome desmedida
de devorar tuas
entranhas mais profundas,
entrar em tua virgindade,
em tua mocidade, em você fazer
minha casa, te dar asas
acompanhar teu balé
dançar a música que nasce
tremula em teu seio
captar todas as cores
que exalam do seu cheiro
Querer te querer
ter você e não ter
saber e resistir,
resistir e perguntar por quê?

(José Maria)