segunda-feira, 30 de julho de 2007

TRISTE CANÇÃO

Ando e canto
Essa triste canção
Pelos cantos
Por onde passo

Vejo
Aqueles que insistem
Em desistir
- e desistem -
De revolucionar
Seus valores, seu
espaço.

Que
Entregam-se
Ao marasmo
Da vida
E aos perigos dos
Seus laços.

E que resumem a imensidão
Do mundo
À pequenez de
Seus passos.

(Jorge Elô)

sábado, 28 de julho de 2007

Conversa de uma sexta à noite

Sobre o efeito psicotrópico do álcool,
do barulho frenético de pessoas conversando
dos carros passando,
da fumaça e os suores humanos
uma conversa surge,
nasce, renasce, é a poesia.
Poesia viva de sentimentos contínuos,
de luta cotidiana
que briga com todas as letras procurando o seu lugar
sua experiência, seu signo,
suas imperfeições
todas as metáforas possíveis e imagináveis
buscando as rimas perfeitas num universo onde a rima
não é dona da perfeição.
Onde a palavra pode com sua mão pequena segurar o mundo,
construir cores e borboletas,
dizia um homem de pele escura de olhos verdes e
de voz suave.

(José Maria)

quinta-feira, 26 de julho de 2007

MESSENGER

Antes de começar a ler
Olhe ao seu redor.
Repare o quanto tudo
É estranho e
O quanto você já
Faz parte disto.

E por isso não percebe.
E por isso não estranha.
Respira e
Expira gases tóxicos
Em frente a esta tela de
Computador.
Não pensa:
Como pode
Estar eu a lhe falar
Agora
Se estou a
Quilômetros de distância?
(Embora que pensando em ti.)
Nem pensa: até onde poderemos
Transformar tudo,
Nossos limites,
Nossos valores,
Sem que isso se torne
Sentença de morte?
Não percebe o
Quanto é estranho
Você ai lendo o que escrevi
E eu aqui pensando
Em todas as possibilidades
Impossíveis
De como estarás fazendo isso.
(Jorge Elô)

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Poema para Fernanda

Falar das flores
Que se abrem num balé frenético
Dançam uma música suave de cheiro espantoso
Falar do frio,
do vazio
Os dias se alongam as horas nunca, nunca...
Passados os festivais, os invernos,
as saudades de quem ainda não se conhece
da tua letra, do teu sorriso materializado em pensamentos
Falar de todas as coisas,
do que foi escrito, do que ainda será dito
isso, aquilo, pontos, vírgulas
toda essa explosão traduzida em cores,
conhecer o teu olhar
mesmo sem conhecer teus olhos!!

(José Maria)

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Estética


Tudo aquilo que para mim
Revela-se belo,
Pode não ser
Para o resto do mundo.

Tudo aquilo que me
Causa pavor,
Pode
Ser flores.

Até mesmo uma palavra dita
Inocentemente,
Pode me causar a
Dor da morte. Porém,
O mofo da parede, quando
Visto de perto,
Comporta minúsculos seres
Que brilham diante de meu rosto magro e me
Consomem a vista.

O excremento que meu filho fez
Em cima da minha única calça jeans,
Era tão belo quanto um pé
De ipê florido e reluzente imerso
No chão de concreto.

A caixa de marimbondo no teto da sala,
O dia logo após as cinco da tarde,
O som do balançar da rede,
As miniaturas em cerâmica,
O olhar perdido de quem não pensa em nada,
As Fileiras de formigas tornando limpa
Nossa casa:
Tudo é tão belo.

Pois
Tudo aquilo que para mim
Revela-se belo,
Pode não ser
Para o resto do mundo. E

Tudo aquilo que me
Causa pavor,
Pode
Ser flores.
(Jorge Elô)

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Uma caneta
Escrevo, reescrevo
Distraído na leveza das coisas simples
Empolgo-me com todos os advérbios
Não, nunca, jamais, absolutamente
Aqui, lá, perto, longe
Palavras
Certo do tempo que corre
Certo do amor louco de sábado
Distraído
Cheio de todos os venenos
Palavras
Enrolado com todos os adjetivos
Borboletas, a borboletrar meu nome
E tudo é tão vazio e escuro

(José Maria)

terça-feira, 17 de julho de 2007

Parte

Tem uma parte de mim
Que não encontro
Em nenhuma outra
Parte.

Esta parte
Parte-me e
Reparte-me entre
Buscas e encontros.
Entre idéias que surgem e que
Partem,
Tão depressa quanto um susto.

Nesta busca da minha parte
Não procuro o que sou.
Encontro-me a mim mesmo
No reflexo
complexo
Que és tu.

(Jorge Elô)

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Não existe saudade
Não existe vontade
Não existe
Existe amor
Existem cores
Existe?
Existe Você
Existe sua beleza
Existe sua forma
Existe a cor de teus olhares
Existe
Existe.

(José Maria)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

CONTRA O TEMPO


Corro contra o tempo,

Como o vento,

Com meu pranto e meu

Tormento.

Corro sempre mais

E mais depressa.

Perco os dias

Que diluem em suor.

Perco a infância

Do meu filho

Que envelhece sem

Espera.

Que não pode

Esperar-me terminar

De trabalhar

Para poder envelhecer.

Que não poder deixar de

Viver apenas porque

Eu já deixei.

E estou correndo

Contra o vento,

Transbordando angústia por dentro.

Prestes a explodir

Em uma liberdade de não fazer nada

De ficar olhando,

O tempo, passando,

Correndo,

Varrendo por dentro as

Pessoas e os seus

Sentimentos.


(Jorge Elô)


terça-feira, 10 de julho de 2007

O sobretudo

Um sobretudo

Sobre tudo

E sobretudo,

Do frio.


Uma abertura

Na costura.

Uma fissura

No vazio.


E minha

Branca Negra pele

Multicoloriu.


Mas sobretudo,

Sobre tudo,

Um sobretudo

No vazio.

(Jorge Elô)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Sem Sertão

De sertão em sertão
Com a lata na cabeça,
Sem chuva, sem gado, sem ter o que plantar

Maria no sábado vai pra feira
Com seus meninos pra acompanhar
Compra farinha, não comprou carne, mas tem caldo de feijão pra se virar

Lavando roupa, trabalhando de faxineira, sem espelho pra sonhar
Sem chuva, sem gado, sem dinheiro, sem governo
Sem Sertão ... !

(José Maria)

domingo, 8 de julho de 2007

Bomba Atômica

O que sinto não cabe na métrica

Dos poemas.

Não sinto o que sinto

Em rimas!

Meu amor não priva pela forma.

O que sinto não está definido

Nas paginas do dicionário.

A estética do meu amor é

disforme.

Não te amo em sonetos.

Meu amor é mais bruto,

Feito de carne, sangue e

Suor.

É como um eclipse

Que me venda os olhos por alguns minutos.

Amo-te então

Com a mesma força

Do sol,

Que nos proporciona

Envelhecimento precoce

E câncer de pele

Ao mesmo tempo que nos ilumina e

Aquece.

Amo-te então

cada dia um pouco mais.

Estão sendo injetadas em mim,

Diariamente,

doses suas

e

às vezes

são doses cavalar.

Então

chegará o dia em que

não caberá em mim tanto amor.

E,

neste dia,

tornar-me-ei

uma bomba atômica.


(Jorge Elô)

sábado, 7 de julho de 2007

Solidão

Aos vermes a solidão,
Triste condição humana, pura.
Sem sentimentos aparentes sem pecados,
Sem lembranças.
Solidão condição que agoniza
Que invade o homem o ser
Maltrata uma simples alegria.
Quem é você?
Por que veio?
Pra onde vamos?
Não és soberana?
És rica, sem apelo.
És linda em desespero.
Quantos, quem, não sois mãe de todas as tristezas!
És rainha.
Mas eu sou mais forte que tu,
Aos vermes a solidão.

(José Maria)

ESCRITA


Escrever é como livrar-se

das doenças que perturbam minha existência.

É como tecer uma amanhã

dentro da madrugada.

É tornar-se espelho

aos olhos de quem lê,

refletindo

tudo aquilo que não foi

pensado no ato da escrita,

mas que permanece independente

da vontade do

escritor.

É acordar vomitado,

ainda bêbado, bem

longe do lar,

e ainda assim se sentir vivo,

em uma espécie de êxtase,

onde a depressão e a alegria

disputam por seu espaço.

É tornar eterno um único sentimento ou

pensamento,

na tentativa de materialização

do abstrato.

É

poder falar mesmo após a morte.

É um querer continuar vivo

enquanto o corpo apodrece abaixo da terra.

Poder reviver o que não foi vivido e

um desabafo que não posso

viver muito tempo sem

fazê-lo.



(Jorge Elô)

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Envolto por uma áurea divina, bebo vinho
admoesto os meus olhos... opção
tolos, descobridores de achados e perdidos

Cortado os pulsos o que resta para uma sangria?
conjuntura, presente, bestiais por falta ou pelo prazer... opção
tolos, destinados a princípios... oficio

Quebra ...

Comendo todas as víscera mortas que a ilusão nos deixa,
comparamo-nos aos mágicos, que escondem todas as perturbações,
tomam formas anti-humanas... olhar
por assim digo não penas falo ao mito ou não mito,
que o discurso desse homem de pela branca, de pouca estatura,
mais de voz imponente nos deixa de mãos atadas !

(José Maria)

Testamento


Agora que meu corpo

Decompõem-se dentro

Deste caixão de madeira,

Deixo ao meu filho

Este testamento.


Deixo-lhe o

Mundo em caos,

E debaixo do meu colchão,

Algumas playboys.


Deixo-lhe hortelã

Para que faça um chá,

E contas pregadas na porta

Da geladeira.


Deixo-lhe Marx

Mofando na estante e

Uma TV em cores.


Deixo-te livre para decidir

Sobre meu corpo,

Assim como sobre o cardápio

A ser servido no dia

Do meu velório.


Deixo-te livre para escolher

O destino de minha alma,

E a forma de sofrer os castigos.


Estás livre para me

Vestir o corpo com terno

Ou me enterrar nu.


Deixo-te livre.

Deixo-te ainda o cheiro do

Meu cabelo após o banho.


Deixo-te vivo. Deixo-te capaz de viver.


Só não te deixo dinheiro,

Pois gastei tudo nesta vida

O que acabou me matando.


(Jorge Elô)


quinta-feira, 5 de julho de 2007

Casa
Alicerce, pau, pedra, tijolo...
construção, sonho, realidade,
sempre as cores.
Casal, casa, descasa se faz casa,
moradia, habitação, canto, lugar idílico...
compra, vende-se, aluga-se,
sempre as cores.
Cachorro que late, vizinha, água, luz e telefone,
e o sonho sempre acaba,
as borboletas migram, a casa sempre cai,
as cores somem

(José Maria)

ESCREVER CHAPADO

As palavras criam pernas
e fogem de minha mente.
Tudo que venho escrevendo,
cada coisa que escrevo,
apaga o que havia escrito antes.
As letras possuem vida própria
e correm livres pelo papel.
Estão preparando, de forma silenciosa,
uma revolução.
Eu me levanto,
olho aquele balé de letras,
e jogo minha maquina de escrever
no chão
(Jorge Elô)