sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Confiança


Atirar-me-ia
de um edifício
de vinte andares
no seu colo

Acamparia
em seu peito
recoberto somente
por seus braços tênues


Dar-lhe-ia
meus pulsos feridos
para que cuidasse

Entraria
em coma em sua
cama
após ser engolido
pelo seu corpo

Enraizar-me-ia
e lançaria galhos
num lugar só nosso.


(Jorge Elô)

sábado, 15 de dezembro de 2007

O negro do teu olho
a cor da tua pele,
é por esse azul celeste,
pelas flores
que vou caminhando
no vermelho do teu beijo
ao cinza dos dias sem você
até a explosão do raiar amarelo
ao renascer
dos dias claros
aos escuros
luz de todas as galáxias
à beleza,
incomum, inconteste
igual as flores

(José Maria)

domingo, 18 de novembro de 2007

Avenida

Caminho, todos os dias, pelo
Mesmo canteiro da
Avenida Floriano Peixoto
Ao tempo que
Respiro o seu ar tóxico
E escuto o seu som ensurdecedor.

Os carros que nela correm,
As pessoas que nela transitam,
Transitam como se a vida estivesse preste
A acabar.
Saem atropelando
Tudo que lhes passam pela frente:
Borboletas, moscas,
Abelhas, mosquitos,
Pássaros, crianças sujas e famintas,
Idosos moribundos,
Adolescentes encantados com a cor dos seus sapatos novos,
Lixo que transborda por todos os lados que se olha...

Bem poderia eu
Seguir um outro caminho,
Bem mais agradável do que este.
Porém, continuo sempre a
Passar pela avenida que é a espinha dorsal
Da cidade e que carrega em si todas
As suas dores, contradições e alegrias.

Mas se me perguntarem
O porquê,
Direi apenas que é
Porque sei que, de repente,
Os ipês
(Que assim como eu, compõem o canteiro
Desta amarga avenida)
Estarão emanando seus
Odores amarelos,
Vermelhos e rosas,
Colorindo o rosto do senhor
Que pede esmola,
Fazendo-me crer que atingi
Uma outra realidade sem
O auxílio de
Entorpecente algum.

(Jorge Elo)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Querer te querer,
ter você e não ter
ver você e não saber
sonhar e ao mesmo
sonhar
esperar num tempo de loucos
ser ao menos e tanto quanto
ao mesmo tempo
saber que é para sempre
e sempre saber que a primeira,
e ser a primeira mesmo
em sonhos loucos
ter você e ter outra vez
querer você e tentar
tentar e nunca conseguir,
conseguir e sempre pedir
com olhos de fome
fome desmedida
de devorar tuas
entranhas mais profundas,
entrar em tua virgindade,
em tua mocidade, em você fazer
minha casa, te dar asas
acompanhar teu balé
dançar a música que nasce
tremula em teu seio
captar todas as cores
que exalam do seu cheiro
Querer te querer
ter você e não ter
saber e resistir,
resistir e perguntar por quê?

(José Maria)

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Caiu, rapidamente levantou,
bateu a poeira, bateu palmas
e minha carteira,
viveu no meio de vírgulas e entretantos
achou espaço, trabalhou,
chorava a própria morte
vestia vermelho, dava jeito de se camuflar
tomava vinho, vendia sua poesia
e às vezes seu corpo
não tinha sobrenome
passava o tempo,
e sem avisar voltou a cair
bateu a poeira, bateu palmas
deixou minha carteira,
e seguiu para algum lugar!

(José Maria)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Grandes estruturas econômicas ou políticas,
dependem das especulações
metafísicas, anti-metafisicas,
ou ainda de outra estrutura hierárquica
baseada nos seus cabelos negros,
mas sempre em constantante admiração ao teu olhar.

Modelos históricos ruíram-se,
nenhum paradigma e tão perfeito como teu olhar,
pequenas estruturas elogiam teu sorriso,
acabaram os mais lindos poemas.

Moises no Egito anunciava a salvação,
nas linhas das tuas mãos,
ele pregava a remição pela beleza
que salvação tem fora de ti?

Quantos homens ao longo da eternidade
ao longo da própria existência poderão dizer
felizes, encontrei o amor que me sufoca,
onde a presença é como um espectro que assola
o meu interior.

Teu sorriso, olhar, pele,
voz, toque, teus mais embriagantes beijos
deixam-me a imaginar o céu, representação maior
da purificação que há em ti.

(José Maria)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Pequeno-gigante-homem-criança

Às vezes
Meus vinte e três anos
(vividos intensamente)
São supérfluos diante
Do seu olhar observador
De ermitão da montanha e
De suas palavras de sábio recluso
Que saltam de uma pequena boca
De três anos de idade.

Minhas experiências ínfimas
Tornam-se ainda mais ínfimas
Quando me deparo com sua
Complexidade de um
Pequeno-gigante-homem-criança.

E embora saiba que você
(ainda) não conheça Aristóteles,
Calígola, Nietzche, Schopenhauer,
Michelangelo, Da Vinci, Monet,
Allan Moore, Gullar, Napoleão, Machado de Assis,
A física Quântica, a bomba atômica,
Nem o próprio átomo,
Bukowski,
A morte, o sexo, Platão,
Dívidas, solidão,
O capitalismo, a exploração e exclusão social,
Nem Hobsbawn, nem Marx e
Nem o aquecimento global;
Embora saiba que desconheça isso tudo,
Sinto a intertextualidade com eles em sua fala
Quando me olha e pergunta
Porque Deus vive a fazer
Nuvens.

(Jorge Elô)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Não consigo falar, me faltam palavras
As borboletas agora são companheiras
A sensibilidade nunca foi um forte, e sim um fraco
O amor é por tanto quanto em qualquer e em todos
As rosas agora não dançam mais, não exalam
Os vinhos já não têm o mesmo sabor
Meus inimigos eternos choram
Você é minha grande alegria
Vivo um dia e outro
Dia em que te encontrar é a lei mais exata de sobrevivência
Feliz
Esse é a leitura que fiz de tua mão
Isso é meu sentimento
Sinto muito, às vezes mais ainda
Às vezes menos em que se imagina, pois imaginar e minha sina
Imaginar que te fazer feliz é meu dever
Dever, devir, devoto de teu olhar doce, sublime
Distraído em conhecer teus desejos, desejando conhecer-te por inteiro
Não consigo falar, me faltam palavras

(José Maria)

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Se não escrevo mais

Não é por falta de sentir,

Mas porque sinto em excesso.

Os sentimentos estão

Cada vez mais

Complexos,

E as palavras

Cada vez mais

Escassas.

O mundo, o futuro,

As promessas de vida,

O sonho de consumo

Tudo esfumaçado.

Quem sabe amanhã

Ao acordar tenha algo

Suspenso sobre minha cabeça.

Algo que me lembre

Tudo que venho esquecendo.

Algo vivo que me ensine

O que é a vida.

E que me faça ver

Que a arrogância de querer ser a si mesmo

Às vezes se perde na homogeneidade

Das multidões.

E que o preço da sinceridade

Às vezes é a solidão.

Se não escrevo não é porque

Deixei de sentir,

E sim porque venho diluindo-me

Cada vez mais

Na normalidade moral,

Social, sexual, material

Desta sociedade

Tortuosa e torturante.

(Jorge Elô)

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Até quando os dias estão mais quentes sinto o frio percorrer meus ossos.

Respiro e sei que de dentro de mim
Bilhões de bactérias atingem o ar.
Minhas mãos percorrem meus bolsos
Vazios
Em busca de esperança.
Não é dinheiro o que procuram.
Dinheiro é divertido
Mas não me faz me sentir melhor.

Uma rotina. É disso que preciso.
Uma rotina no espaço vazio
Do cosmos que somos cada um de nós.
Universos inteiros, habitados e morrendo...

Sinto-me um idiota por pensar tanto.
Não me leva a nada
Apenas cada vez mais para o fundo.
Minha cabeça pesa com um número
Extraordinário e infinito de reflexões
Que no fim das contas
É um amontoado de nada.

Ninguém precisa saber disso.
Ninguém se importaria ao menos.
Não quero que minhas palavras sejam
Depressivas.
Ao contrário,
Quero que de minhas axilas
Brotem violetas amarelas, roxas, vermelhas,
De todas as cores,
Menos violeta.

Falarei contigo a uma distância considerável.
Não quero que engula minhas bactérias.
Quero que elas sejam somente minhas.
E esta mão na frente da boca
É também para evitar que meu dente podre
Salte e caia em seu decote.
É para evitar que o caos
Assuma o controle, meu amor.
(Jorge Elô)

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Minha Paixão
é assim
Versificada
Uma rima
atráz da outra
Um verso
Um reverso
As letras
se encaixando
Todas
no seu lugar
Cada palavra
no seu sentido
Cada sentido
no seu lugar
Paixão versificada
assim
Não tem como
complicar.

(José Maria)

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

ALADO

Sinto como se
ao seu lado
eu possuísse asas de
dragão alado

Asas de anjo vomitado
do céu
por ter-se apaixonado.

Asas resistentes ao sol
feitas de titânio.

Asas que não carrego só
nem sinto-me estranho.

(Jorge Elô)

sábado, 11 de agosto de 2007

Loucura

Abandonado pelas palavras,
declaro guerra
triste pela ilusão da vida,
feliz pela morte

Sem rumo
chegarei a algum lugar,
sempre se chega.

Candidato a nada,
eleito por ninguém,
represento absurdamente a mim mesmo

Mudo a forma,
mas jamais mudarei a estrutura,
com ela não se brinca.

(José Maria)

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Dez Minutos

Dez minutos para escrever algo.

O tempo é relativamente pequeno.

Porém, tanta coisa acontece em dez minutos.

Sei que pessoas morrem e nascem neste

Período de tempo.


O tempo corre mais veloz

do que consigo pensar no que escrever.

Mais veloz do que

a curta duração que leva

para que o copo saia de cima da mesa

e atinja minha boca.


O mais curioso disto tudo

é que sei que terei algo escrito

ao término deste tempo,

mesmo que sejam

palavras que caminharão

por seus olhos,

de maneira livre

assumindo um significado novo

do qual não expressei ao escrever e

do qual não terei conhecimento.


Sei que um texto será escrito

e viverá independentemente

de mim.


Nestas linhas cuspidas daqui de dentro

Estarão os dez minutos de minha vida que

Não voltarão nunca mais.

Nunca mais serão minutos que

Dediquei desta

Para escrever algo.

(Jorge Elô)

domingo, 5 de agosto de 2007

Infidelidade



Rasgo diante de ti meu coração
Entrego-lhe rosas, pálidas e sem vida
Dou lhe o pequeno amor que não é teu
Pois o amor é de quem ama

Rasgo diante de ti meus sonhos
Encantos, desencantos, minhas tardes
Se eis imperfeição que seja amada
Se eis amor que seja imperfeito

Que trais lembranças ruins
A vida amarga
Tudo que não é teu

O eterno
A dor da criatura
E o amor do criador

(José Maria)

segunda-feira, 30 de julho de 2007

TRISTE CANÇÃO

Ando e canto
Essa triste canção
Pelos cantos
Por onde passo

Vejo
Aqueles que insistem
Em desistir
- e desistem -
De revolucionar
Seus valores, seu
espaço.

Que
Entregam-se
Ao marasmo
Da vida
E aos perigos dos
Seus laços.

E que resumem a imensidão
Do mundo
À pequenez de
Seus passos.

(Jorge Elô)

sábado, 28 de julho de 2007

Conversa de uma sexta à noite

Sobre o efeito psicotrópico do álcool,
do barulho frenético de pessoas conversando
dos carros passando,
da fumaça e os suores humanos
uma conversa surge,
nasce, renasce, é a poesia.
Poesia viva de sentimentos contínuos,
de luta cotidiana
que briga com todas as letras procurando o seu lugar
sua experiência, seu signo,
suas imperfeições
todas as metáforas possíveis e imagináveis
buscando as rimas perfeitas num universo onde a rima
não é dona da perfeição.
Onde a palavra pode com sua mão pequena segurar o mundo,
construir cores e borboletas,
dizia um homem de pele escura de olhos verdes e
de voz suave.

(José Maria)

quinta-feira, 26 de julho de 2007

MESSENGER

Antes de começar a ler
Olhe ao seu redor.
Repare o quanto tudo
É estranho e
O quanto você já
Faz parte disto.

E por isso não percebe.
E por isso não estranha.
Respira e
Expira gases tóxicos
Em frente a esta tela de
Computador.
Não pensa:
Como pode
Estar eu a lhe falar
Agora
Se estou a
Quilômetros de distância?
(Embora que pensando em ti.)
Nem pensa: até onde poderemos
Transformar tudo,
Nossos limites,
Nossos valores,
Sem que isso se torne
Sentença de morte?
Não percebe o
Quanto é estranho
Você ai lendo o que escrevi
E eu aqui pensando
Em todas as possibilidades
Impossíveis
De como estarás fazendo isso.
(Jorge Elô)

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Poema para Fernanda

Falar das flores
Que se abrem num balé frenético
Dançam uma música suave de cheiro espantoso
Falar do frio,
do vazio
Os dias se alongam as horas nunca, nunca...
Passados os festivais, os invernos,
as saudades de quem ainda não se conhece
da tua letra, do teu sorriso materializado em pensamentos
Falar de todas as coisas,
do que foi escrito, do que ainda será dito
isso, aquilo, pontos, vírgulas
toda essa explosão traduzida em cores,
conhecer o teu olhar
mesmo sem conhecer teus olhos!!

(José Maria)

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Estética


Tudo aquilo que para mim
Revela-se belo,
Pode não ser
Para o resto do mundo.

Tudo aquilo que me
Causa pavor,
Pode
Ser flores.

Até mesmo uma palavra dita
Inocentemente,
Pode me causar a
Dor da morte. Porém,
O mofo da parede, quando
Visto de perto,
Comporta minúsculos seres
Que brilham diante de meu rosto magro e me
Consomem a vista.

O excremento que meu filho fez
Em cima da minha única calça jeans,
Era tão belo quanto um pé
De ipê florido e reluzente imerso
No chão de concreto.

A caixa de marimbondo no teto da sala,
O dia logo após as cinco da tarde,
O som do balançar da rede,
As miniaturas em cerâmica,
O olhar perdido de quem não pensa em nada,
As Fileiras de formigas tornando limpa
Nossa casa:
Tudo é tão belo.

Pois
Tudo aquilo que para mim
Revela-se belo,
Pode não ser
Para o resto do mundo. E

Tudo aquilo que me
Causa pavor,
Pode
Ser flores.
(Jorge Elô)

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Uma caneta
Escrevo, reescrevo
Distraído na leveza das coisas simples
Empolgo-me com todos os advérbios
Não, nunca, jamais, absolutamente
Aqui, lá, perto, longe
Palavras
Certo do tempo que corre
Certo do amor louco de sábado
Distraído
Cheio de todos os venenos
Palavras
Enrolado com todos os adjetivos
Borboletas, a borboletrar meu nome
E tudo é tão vazio e escuro

(José Maria)

terça-feira, 17 de julho de 2007

Parte

Tem uma parte de mim
Que não encontro
Em nenhuma outra
Parte.

Esta parte
Parte-me e
Reparte-me entre
Buscas e encontros.
Entre idéias que surgem e que
Partem,
Tão depressa quanto um susto.

Nesta busca da minha parte
Não procuro o que sou.
Encontro-me a mim mesmo
No reflexo
complexo
Que és tu.

(Jorge Elô)

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Não existe saudade
Não existe vontade
Não existe
Existe amor
Existem cores
Existe?
Existe Você
Existe sua beleza
Existe sua forma
Existe a cor de teus olhares
Existe
Existe.

(José Maria)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

CONTRA O TEMPO


Corro contra o tempo,

Como o vento,

Com meu pranto e meu

Tormento.

Corro sempre mais

E mais depressa.

Perco os dias

Que diluem em suor.

Perco a infância

Do meu filho

Que envelhece sem

Espera.

Que não pode

Esperar-me terminar

De trabalhar

Para poder envelhecer.

Que não poder deixar de

Viver apenas porque

Eu já deixei.

E estou correndo

Contra o vento,

Transbordando angústia por dentro.

Prestes a explodir

Em uma liberdade de não fazer nada

De ficar olhando,

O tempo, passando,

Correndo,

Varrendo por dentro as

Pessoas e os seus

Sentimentos.


(Jorge Elô)


terça-feira, 10 de julho de 2007

O sobretudo

Um sobretudo

Sobre tudo

E sobretudo,

Do frio.


Uma abertura

Na costura.

Uma fissura

No vazio.


E minha

Branca Negra pele

Multicoloriu.


Mas sobretudo,

Sobre tudo,

Um sobretudo

No vazio.

(Jorge Elô)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Sem Sertão

De sertão em sertão
Com a lata na cabeça,
Sem chuva, sem gado, sem ter o que plantar

Maria no sábado vai pra feira
Com seus meninos pra acompanhar
Compra farinha, não comprou carne, mas tem caldo de feijão pra se virar

Lavando roupa, trabalhando de faxineira, sem espelho pra sonhar
Sem chuva, sem gado, sem dinheiro, sem governo
Sem Sertão ... !

(José Maria)

domingo, 8 de julho de 2007

Bomba Atômica

O que sinto não cabe na métrica

Dos poemas.

Não sinto o que sinto

Em rimas!

Meu amor não priva pela forma.

O que sinto não está definido

Nas paginas do dicionário.

A estética do meu amor é

disforme.

Não te amo em sonetos.

Meu amor é mais bruto,

Feito de carne, sangue e

Suor.

É como um eclipse

Que me venda os olhos por alguns minutos.

Amo-te então

Com a mesma força

Do sol,

Que nos proporciona

Envelhecimento precoce

E câncer de pele

Ao mesmo tempo que nos ilumina e

Aquece.

Amo-te então

cada dia um pouco mais.

Estão sendo injetadas em mim,

Diariamente,

doses suas

e

às vezes

são doses cavalar.

Então

chegará o dia em que

não caberá em mim tanto amor.

E,

neste dia,

tornar-me-ei

uma bomba atômica.


(Jorge Elô)

sábado, 7 de julho de 2007

Solidão

Aos vermes a solidão,
Triste condição humana, pura.
Sem sentimentos aparentes sem pecados,
Sem lembranças.
Solidão condição que agoniza
Que invade o homem o ser
Maltrata uma simples alegria.
Quem é você?
Por que veio?
Pra onde vamos?
Não és soberana?
És rica, sem apelo.
És linda em desespero.
Quantos, quem, não sois mãe de todas as tristezas!
És rainha.
Mas eu sou mais forte que tu,
Aos vermes a solidão.

(José Maria)

ESCRITA


Escrever é como livrar-se

das doenças que perturbam minha existência.

É como tecer uma amanhã

dentro da madrugada.

É tornar-se espelho

aos olhos de quem lê,

refletindo

tudo aquilo que não foi

pensado no ato da escrita,

mas que permanece independente

da vontade do

escritor.

É acordar vomitado,

ainda bêbado, bem

longe do lar,

e ainda assim se sentir vivo,

em uma espécie de êxtase,

onde a depressão e a alegria

disputam por seu espaço.

É tornar eterno um único sentimento ou

pensamento,

na tentativa de materialização

do abstrato.

É

poder falar mesmo após a morte.

É um querer continuar vivo

enquanto o corpo apodrece abaixo da terra.

Poder reviver o que não foi vivido e

um desabafo que não posso

viver muito tempo sem

fazê-lo.



(Jorge Elô)

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Envolto por uma áurea divina, bebo vinho
admoesto os meus olhos... opção
tolos, descobridores de achados e perdidos

Cortado os pulsos o que resta para uma sangria?
conjuntura, presente, bestiais por falta ou pelo prazer... opção
tolos, destinados a princípios... oficio

Quebra ...

Comendo todas as víscera mortas que a ilusão nos deixa,
comparamo-nos aos mágicos, que escondem todas as perturbações,
tomam formas anti-humanas... olhar
por assim digo não penas falo ao mito ou não mito,
que o discurso desse homem de pela branca, de pouca estatura,
mais de voz imponente nos deixa de mãos atadas !

(José Maria)

Testamento


Agora que meu corpo

Decompõem-se dentro

Deste caixão de madeira,

Deixo ao meu filho

Este testamento.


Deixo-lhe o

Mundo em caos,

E debaixo do meu colchão,

Algumas playboys.


Deixo-lhe hortelã

Para que faça um chá,

E contas pregadas na porta

Da geladeira.


Deixo-lhe Marx

Mofando na estante e

Uma TV em cores.


Deixo-te livre para decidir

Sobre meu corpo,

Assim como sobre o cardápio

A ser servido no dia

Do meu velório.


Deixo-te livre para escolher

O destino de minha alma,

E a forma de sofrer os castigos.


Estás livre para me

Vestir o corpo com terno

Ou me enterrar nu.


Deixo-te livre.

Deixo-te ainda o cheiro do

Meu cabelo após o banho.


Deixo-te vivo. Deixo-te capaz de viver.


Só não te deixo dinheiro,

Pois gastei tudo nesta vida

O que acabou me matando.


(Jorge Elô)


quinta-feira, 5 de julho de 2007

Casa
Alicerce, pau, pedra, tijolo...
construção, sonho, realidade,
sempre as cores.
Casal, casa, descasa se faz casa,
moradia, habitação, canto, lugar idílico...
compra, vende-se, aluga-se,
sempre as cores.
Cachorro que late, vizinha, água, luz e telefone,
e o sonho sempre acaba,
as borboletas migram, a casa sempre cai,
as cores somem

(José Maria)

ESCREVER CHAPADO

As palavras criam pernas
e fogem de minha mente.
Tudo que venho escrevendo,
cada coisa que escrevo,
apaga o que havia escrito antes.
As letras possuem vida própria
e correm livres pelo papel.
Estão preparando, de forma silenciosa,
uma revolução.
Eu me levanto,
olho aquele balé de letras,
e jogo minha maquina de escrever
no chão
(Jorge Elô)